terça-feira, 23 de novembro de 2010

Na próxima estação*

Doce. A aura, o olhar, o jeito. Tudo nela parecia doce.

Talvez eu jamais saiba sequer seu nome. Como poderia chamar-se aquela criatura com voz de anjo?

Enquanto falava ao telefone mexia lábios esculpidos pela mais divida entidade do universo. Eram perfeitamente simétricos e a textura do contorno daquele sorriso fácil prendia minha atenção tal qual um homem que atravessou o deserto mira uma fonte d’agua. Eu estava sedento por provar seu gosto meigo e inocente.

Um decote falsamente insinuante permitiu-me ver não mais que a curva sinuosa de um par de seios do tamanho que todo homem deseja ter para si, numa devoção típica de quem apara mais do que o coração inocente de uma jovem fêmea.

Aquele pecado sagrado oferecia-se na fileira de bancos ao meu lado. Titubeei por infindáveis minutos e quilômetros; Queria sentar ao lado dela e dizer toda paixão que observá-la por alguns instantes despertou em meu coração vulnerável. Planejei frases, armei planos. Queria acompanhá-la até sua casa, carregar suas coisas, carregá-la nos braços, entrar em sua casa, entrar na sua vida, invadir o destino dela num insano arroubo de paixão.

Queria que ela me tomasse pela mão, olhasse nos meus olhos e me chamasse de ‘meu’. Queria ser dela,

para ela,

com ela.

O cabelo curto, em duas cores, complementava o visual que começava por delicados pés 34, calçados por um surrado All-Star vermelho; A já referida blusa colaborava com minha hipnose, estampada com motivos psicodélicos. No pulso direito a identidade da mais pura rebeldia disfarçada em beleza se revelava com uma tatuagem de libélula.

Suave como uma pena solta no ar, acomodou-se e rapidamente na poltrona e adormeceu. Sorria enquanto dormia, provavelmente pensando no felizardo sujeito que desfruta de sua mais profunda intimidade e tem a graça bendita de ser dela. As maças do rosto se inflaram com o sorriso. De olhos fechados, ela arrumou o cabelo para trás da orelha e deu mais detalhes de si, naquela lenta e torturante descoberta que eu admirava passivamente.

Tinha duas pintas no lado direito da face. Quantas outras mais o corpo dela poderia esconder? Esse e outros pensamentos atravessavam meu peito enquanto ela dormia e eu sonhava acordado.

Naqueles instantes queria apenas a eternidade ao lado dela. A eternidade de um beijo, de um carinho, de um olhar. De uma noite ou de uma vida. Queria dela a atenção e apego que ela me provocou. Queria a correspondência de todo esse encantamento.

Minha rodoviária chegou.

Eu levantei.

Ela sequer olhou.

A tristeza de deixar ir embora o amor da minha vida dos últimos 40 minutos só não é maior que a esperança de um dia voltar a encontrá-la. E independente do tempo que passar eu a reconhecerei pelo gosto doce do sentimento que sua imagem deixou impregnado em minhas lembranças.

*Texto escrito originalmente em ago/2005 e resgatado de uma pasta de reminiscências.

domingo, 7 de novembro de 2010

How

Make You Feel My Love

When the rain is blowing in your face
And the whole world is on your case
I could offer you a warm embrace
To make you feel my love

When the evening shadows and the stars appear
And there is no one there to dry your tears
I could hold you for a million years
To make you feel my love

I know you haven’t made your mind up yet
But I would never do you wrong
I’ve known it from the moment that we met
No doubt in my mind where you belong

I’d go hungry, I’d go black and blue
I’d go crawling down the avenue
There’s nothing that I wouldn’t do
To make you feel my love

The storms are raging on the rollin’ sea
And on the highway of regret
The winds of change are blowing wild and free
You ain’t seen nothing like me yet

I could make you happy, make your dreams come true
Nothing that I wouldn’t do
Go to the ends of the earth for you
To make you feel my love

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Quando a chuva está caindo em seu rosto
E o mundo inteiro está em suas costas
Eu te ofereceria um caloroso abraço
Pra fazer você sentir meu amor

Quando a sombra da tarde e as estrelas aparecem
E não há ninguém pra enxugar suas lágrimas
Eu poderia te abraçar por um milhão de anos
Pra fazer você sentir o meu amor

Sei que você ainda não ergueu sua cabeça
Mas eu jamais te enganaria
Soube disso desde o momento que nos conhecemos
Não há dúvidas na minha cabeça onde é seu lugar

Eu passaria fome, ficaria preta e azul
Eu me arrastaria por uma avenida
Não há nada que eu não faria
Pra fazer você sentir o meu amor

Oohhhh ohhohh

A chuva está rolando pelo oceano
E na estrada do arrependimento
Os ventos de mudança estão soprando livres e fortes
Você não está vendo nada como eu ainda assim

Não há nada que eu não faria
Iria até o fim do mundo por você
Fazer você feliz, fazer seus sonhos se realizarem
Pra fazer você sentir o meu amor

Pra fazer você sentir o meu amor

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Saltando

Maldita mania de procurar beleza em toda parte.

Não. Não há o que admirar no sofrimento.

É inútil o esforço de tentar encadear palavras que façam algum sentido, que dirá que sejam belas.

Estamos diante do pesadelo infantil; do medo da solidão; do temor de enfrentar o desconhecido.

Não há quem nos proteja. Somos nós, um frente ao outro, encarando a incerteza.

Pisamos sobre um emaranhado de dúvidas.

O passado nos prende e distorce qualquer tentativa de enxergar o futuro.

Será um salto de pára-quedas, mas sem pára-quedas.

Espero acordar antes de chegar no chão.
Gostar
muito

É


muito


diferente


de

amar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Da evolução

Todo fim de ano é a mesma coisa: um temporal que precede a bonança pós-carnaval.

Atende pelo nome de inferno astral.

Disseram-me que o fenômeno ocorreria somente no mês anterior ao aniversário.

Pois garanto-lhes: a era de aquário no zodíaco chega sob uma tormenta de três meses de aflição e desavisos.

O quatro de fevereiro há de chegar para abrir o caminho do novo ciclo, mas até lá espero que a experiência deste que se encerra fortaleça meu coração.

A evolução da alma e da personalidade é forjada com lágrimas: de alegria, mas também de tristeza. São elas que purificam e nutrem nossa vontade de viver.

A primavera encerrá sob o sufocante calor do verão.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O sabor da melancolia

A chuva preguiçosa pinga na janela. A brisa da primavera sopra o cheiro de asfalto molhado.

O vinil de Toquinho, com os graves característicos dos toca-discos, batuca no compasso do coração.

"Morena, se acaso um dia
Tempestade te apanhar
Não foge da ventania,
Da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar"

O âmbar do abajur cria suaves sobras no ambiente.

Olhos pesados pelo álcool, passam a enxergar a beleza dos últimos momentos vividos.

À mente vêm as lembranças dos dias mais felizes de uma breve (mas intensa) vida.

O sentimento de plenitude se amplia em um momento de melancolia tenra.

O Chile, os mineiros, os lugares e amigos que fiz neste outubro, contagiam minha alma.

A melancolia tem sabor de regozijo e plenitude.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O jogo

Ele tem 15 anos. Sua vida é a bola de futebol. Está determinado: será um craque. Não é pela fama, muito menos pelo dinheiro. Ele quer provar que pode ser tão bom quanto os outros. Não para os outros, mas para si mesmo.

Para esse menino, o desafio é contra si próprio.
Ele quer provar ao mundo que qualquer sonho é possível.
Afinal, sonhamos com aquilo que vemos. Se vemos, é porque já existe.
Se já existe, alguém o fez.

Se alguém o fez, ele também o fará.

Por mais que lhe digam que terá um futuro brilhante, desconfia.
Anda com a bola debaixo do braço, está sempre pronto para uma pelada.
Não quer perder a chance de mostrar que pode vencer.

Por aquelas reviravoltas do destino, ele foi chamado para jogar uma Copa do Mundo. Uma daquelas coisas surreais que só acontecem aos meninos que sonham.

Nos último dias esse menino encontrou Zico, Zidane, Ronaldinho Gaúcho.
Todos aqueles craques que ele tem um pôster na parede do quarto bateram bola com ele.

Na verdade foi um rachão. Ele teve 90 minutos para jogar a vida.
Suou a camisa. Cruzou, cabeceou, marcou.

Voltou confiante.

Ele tem certeza que um dia vai vestir a amarelinha.

sábado, 16 de outubro de 2010

Sobre o Chile

Texto publicado originalmente em: http://tinyurl.com/35hbxlg

Tenho 800 quilômetros para refletir sobre tudo que vivi ao lado de Rodrigo Lopes nestes quatro dias de cobertura internacional. Enquanto escrevo este texto, atravessamos metade do Chile pela famosa Ruta 5, com suas retas infindáveis e curvas perigosas, no caminho de volta pra casa. Serão doze horas de reflexão sobre o que aconteceu comigo nas últimas 100 horas vividas. Uma lua sorridente nos faz companhia nesta longa viagem.

Procuro o melhor termo para definir como saio desta experiência. Dizer que ‘mudou minha vida’ é simplório demais. Talvez ainda não encontrei a expressão correta porque não tenho a dimensão exata do que me aconteceu desde que deixei Porto Alegre no colorido entardecer do último domingo.

As horas vividas nesta expedição foram intensas. Jornalismo na real acepção da palavra. Estivemos diante do fato e o narramos incessantemente. Meu parceiro de viagem é um profissional que além de competente, ama o que faz. Talvez isso seja redundante, já que que essas definições são indissociáveis e se retroalimentam. Presenciei Rodrigo ficar acordado mais de 24 horas, alimentando-se de notícia. Incansável, deu-me mais do que liberdade para fazer a cobertura junto com ele: confiou e apostou no meu trabalho. Serei eternamente grato a esse novo grande amigo que fiz.

Nas nossas primeiras conversas, definimos tônica da cobertura: a emoção. E isso eu garanto que não nos faltou. Foram muitos os momentos em que o coração guiou nossas atitudes. A entrada na área do resgate, numa noite escura como poucas que já vivi, colocou nossos nervos à prova. Sem credenciamento, com medo de ficarmos de fora, cruzamos três barreiras policiais e conseguimos chegar até o acampamento Esperança. A equipe de dois homens, vibrou. No amanhecer seguinte, já devidamente credenciados, circulamos pelas tendas das famílias. Rostos apreensivos, falas pausadas e esperançosas. No meio da multidão de jornalistas, um senhor tocava violão entoando um canto melancólico. O nó na garganta só me permitiu observá-lo.

Depois de mais de 24 horas mal alimentados, fomos em busca de um restaurante em qualquer área minimamente civilizada. O carro apontou na direção da linha do horizonte, que divide o céu com o mar. Era o Oceano Pacífico se descortinando diante dos meus olhos, que se discretamente se marejaram de emoção.

Faltavam quatro minutos para as dez da noite de 13 de outubro de 2010. Das profundezas do deserto do Atacama renascia o último dos mineiros soterrados. A área da mina San Jose se tornou uma festa completa. Estava na sala de imprensa atualizando as informações para o minuto a minuto de zerohora.com. Rodrigo circulava pelas vielas do acampamento falando ao vivo na Rádio Gaúcha. Me levantei do computador e fui até a rua respirar o ar vitorioso que soprava no deserto.

Se meus pulmões se encheram daquela atmosfera triunfante, foi graças a confiança depositada em mim pelo Grupo RBS. Mas uma empresa é feita de pessoas, as quais faço questão de agradecer:

Ricardo Stefanelli, pela coragem de embarcar um garoto em uma cobertura deste porte;

Rosane Treméa, por todo apoio que me foi dedicado desde que venci o concurso Primeira Pauta;

Luciano Peres, o homem que nos deu a orientação editorial no meio de tanta informação;

Sandro Silveira, por nos colocar e nos tirar do Chile quando precisamos.

Agradeço também a todos os leitores, ouvintes e amigos que manifestaram apoio e parabenizaram nosso trabalho, dando a motivação necessária para que seguíssemos em frente.

Espero que essa tenha sido a primeira de muitas outras grandes pautas.

Sonhos

Sou um homem que mesmo acordado, experimentou sonhos incríveis.

Materializo essa certeza enquanto flutuo sobre um tapete de nuvens, voando sobre uma natureza virgem, depois de ter conhecido a entrada do Jardim do Éden.

Falei com o mundo e o mundo me ouviu.

Realizei sonhos para provar que sonhos são reais.

Vivê-los e senti-los só depende da nossa capacidade de acreditá-los.

Sonhos
são a prova inequívoca da capacidade humana se ser imagem e semelhança da perfeição.

Sonhar pode mudar nossas vidas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A indelével prova do amor

Ela chegou. Sempre chega.

Rompendo o cinza amargo do inverno; Adoçando com cores um novo ciclo.

O perfeito alinhamento do sol entre os hemisférios denota o equilíbrio encarnado pela primavera.

O equinócio marca mais do que um período. É o lado poético, feminino e sensível da natureza.

É a face humana e delicada do Criador.

Céus mais azuis; horizontes mais claros; pessoas mais felizes.

A existência em suas mais complexas e frágeis formas aguarda tímida e recolhida por esse dia.

Os animais fervem em hormônios ansiosos pelo acasalamento.

O calor derrete o distanciamento provocado pelos meses de frio.

O vento sopra mais quente; os pássaros cantam mais alto, o sol nasce mais disposto.

E o que dizer das flores?

Delicadamente preenchem nossos dias com uma beleza que só elas são capazes de proporcionar. Nos encaram por onde andamos e nos obrigam a sorrir.

Nada pedem em troca. Voluntariamente brotam vida afora, despretensiosamente invadem nosso cotidiano e são capazes de nos provocar os mais profundos sentimentos.

Flores. A prova inequívoca de que a humanidade foi criada para amar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A moça das duas tiaras

Era um ambiente surreal. As escadas não subiam nem desciam.

Nas paredes, espelhos que não refletiam. Mas eram espelhos.

Uma luz infiltrava por um mínimo orifício no teto e se refratava em diversos matizes de cores não nomeadas pela arte moderna.

Ao fundo, no canto de três lados, um banco de apenas um pé.

Sentada, ela escondia o rosto com as mãos e os cotovelos apoiados sobre os joelhos.

Vestia um vestido rosa que apenas escondia sua derrière.

A meia calça rosa era o acabamento delicado que protegia pernas torneadas esculpidas por anjos transviados, que se renderam ao fascínio venenoso da alma feminina.

Não sei por que ela estava lá.

Tampouco imagino como entrei ali.

Mas esse não era um questionamento pertinente naquele instante.

Estava preocupado em conhecer aquele rosto escondido, saber dos anseios daquela criatura tão misteriosa e tão bela.

Ela permaneceu com a face oculta.

Ansioso, corri o olhar até seus pés descalços eram exatamente como eu os desejava: pequenos, delicados.

Mas toda aquela aura doce contrastava com detalhes perturbadores, que denotavam toda inquietude de uma personalidade peculiar.

No braço esquerdo, uma tatuagem.

Na cabeça, duas tiaras.

Ela balbuciou palavras em outra língua que não compreendi.

Mais do que isso não vi.

Acordei.

Mas quero voltar a dormir, para ver o rosto dela e descobrir os outros mistérios que me seduziram. Irremediavelmente.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sensacionalismo: a culpa é de quem mesmo?

Artigo escrito para aula de Produção I, sob docência do professor Deivison Campos.

Há no texto “Newsmaking: critérios de importância e noticiabilidade” um aspecto paradoxal que merece reflexão para o aperfeiçoamento do fazer jornalístico. Entre os principais critérios avaliados e presentes em qualquer decisão que defina o âmbito de uma cobertura noticiosa de determinado veículo está o seu processo produtivo. A transformação do acontecimento em notícia precisa ser uma produção contínua, necessária para suprir e abastecer o produto (jornal ou programa de rádio e TV). Essa continuidade precisa ser articulada sob a premissa da rotinização e estandarização das práticas produtivas:

“Sem certa rotina que podem servir-se para fazer frente aos fatos imprevistos, as organizações jornalísticas, como empresas racionais, falhariam” (Tuchaman, 1973, 160).

Se “a notícia é produto de um processo organizado que implica uma perspectiva prática dos acontecimentos (...) e fazê-lo de modo a entreter os espectadores” (Altheide, 1976, 112), constatamos que o pragmatismo reza pela factibilidade.

Muniz-Sodré ainda alerta que no tratamento da informação em televisão há uma clara desconsideração do contexto histórico, retirando o fato de seu meio, recortando um enfoque da realidade, também sob a égide do processo produtivo.

Por outro lado, reza a atual cartilha jornalística que os veículos de comunicação são empresas e necessitam ser viáveis financeiramente para manter sua independência editorial. Ser rentável significa ter bons índices de audiência. E conquistar audiência é um jogo pesado.

Temos percebido uma escalada sensacionalista nos meios de comunicação, em especial na televisão. Programas policiais se escondem sob a premissa do jornalismo para explorar a tragédia, sem qualquer preocupação na problematização do contexto social onde se desenrolam as histórias narradas em telejornais que poderiam ser ancorados diretamente de uma delegacia.

Questionados sobre a qualidade destes produtos, seus idealizadores transferem a responsabilidade ao público: segundo eles, a audiência tem o direito e o poder de decidir através do controle remoto, o que deseja assistir.

Eis aqui o paradoxo ao qual me referia: se a opção pela factualidade e o determinismo pela descontextualização histórica da notícia são deliberações do próprio meio de comunicação e da atual prática jornalística, como pode ser o público responsabilizado ao ser atraído por este formato, emoldurado sob artífices mais ligados à ficção do que a realidade?

“Naturalmente, um dos princípios fundamentais do jornalismo, é que, quanto maior, mais insólito ou mais sangrento é um espetáculo, maior é o valor-notícia. E isto, não é porque os jornalistas sejam macabros ou menos sensíveis às coisas belas da vida. Isso reflete apenas o fato de que o público se interessará mais por uma história que impressione, e pelo contrário, ignorarão uma notícia de rotina” (Brucker, 1973, 175, citado por Golding – Elliot, 1979).

Entendo a partir destas considerações que a noticiabilidade das tragédias e o fazer jornalístico singularizante são características complementares e indissociáveis do mesmo problema, mesmo sabendo que a superficialidade não é característica exclusiva das más notícias.

Mas vale questionar se uma mudança editorial, que voltasse às atenções a um jornalismo construtivo, que circundasse a notícia (mesmo que negativa) não poderia mudar essa cultura.

Esbarramos então nas premissas citadas anteriormente (brevidade ao repassar a informação, factibilidade e factualidade, não por acaso as principais características da crônica policial.

Podemos concluir que esse modo de fazer notícias descoladas de seu contexto e focadas singularmente no seu aspecto mais negativo não é responsabilidade APENAS do público, mas também de quem a produz, uma vez que não contribui para alterar essa cultura e se vale da alienação resultante da simplificação dos acontecimentos.

Concluo que redações regidas pelo “Bad news is a good news” não têm estão em condições de responsabilizar exclusivamente seu público pelo sucesso do jornalismo baseado nesta prática. Se o jornalista coloca-se como protagonista das transformações sociais e puxa para si a responsabilidade de esclarecer e informar, as empresas jornalísticas sérias devem também assumir a responsabilidade por reeducar o público para um novo modo de apreciar e consumir informação. A simples atividade baseada na busca do preenchimento de espaços com o que ACONTECE, sem discutir os motivos que levaram até tal desfecho, é um atentado contra a própria liberdade da atividade tão duramente conquistada, e que certamente, não foi imaginada para estes fins.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Selvagem é não amar

Dois aspectos do comportamento humano explodem na percepção de quem assiste, lê e se envolve com a história de Cris Mclandess, narrada por Jon Krakauer (livro) e Sean Penn (filme) sob o título “Into the wild” (Na Natureza Selvagem).

"A felicidade só é real se compartilhada."

A sentença, entalhada na madeira do ônibus onde o personagem principal minguou até a morte, força a inexorável reflexão sobre a necessidade dos relacionamentos.

Dividir momentos, compartilhar a alegria de conquistas, dar e receber carinho.

Amar incondicionalmente.

Não há como fazê-los sozinho.

Não há plenitude numa felicidade individual. Um coração só se completa quando encontra outro com a mesma capacidade de se emocionar e ter os mesmos sonhos.

Eis a felicidade plena.

Mclandess tem essa epifania ao se ver na plenitude existencial, distante do mundo material, imerso na imensidão do Alaska. Atingir tal ponto de desapego e desvinculação social seria motivo suficiente para encontrar a felicidade?

Ao que tudo indica não.

Nos dois anos que antecederam seu desfecho trágico, Mclandess cruzou os Estados Unidos convivendo com PESSOAS. Teve todo tipo de experiência e desenvolveu laços verdadeiros de afeto. Amigos e amores que foram marcados indelevelmente pela presença dele.

E aí reside a outra grande sacada desta jornada: as almas desconhecidas que vagam pelo mundo e que produzem uma energia inexplicável quando se cruzam.

Relacionamos-nos cotidianamente com um número incrível de pessoas. Mas quantas delas nos marcam? Quantas delas ficam marcadas por nosso convívio?

Conviver. Coexistir.

Somos seres sociáveis determinados a amar e ser amados.

Selvagem é não amar, afinal essa é nossa natureza.

PS: O filme é uma das melhores adaptações que o cinema já fez de um livro. Mas livro é livro. Por via das dúvidas, consuma ambos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Até logo

A folha branca me encara.

Desvio o olhar, envergonhado.

Como dizer à ela que perdi o interesse?

Sim, eu sei. Fomo íntimos até poucos dias.

Não ficávamos uma noite se nos ver.

Mas não tenho mais a inspiração de antes.

Não é um adeus. É um até breve.

Sei que ali na frente vamos nos reencontrar.

Você sabe, assim como eu, que fomos feitos um para o outro.

Mas hoje minha paixão é outra, meu momento é outro.

Fica na lembrança os momentos de devaneios íntimos e teses estapafúrdias.

Sei que muitas vezes não me fiz entender, sou mesmo complicado de compreender.

Mas fique com uma certeza: todo sentimento e poesia que fiz em ti foram do mais puro sentimento do meu coração.

Até breve,

Alvaro

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Agradecimento

O maior desafio está por vir: A grande reportagem.

A participação no concurso me forçou uma reflexão sobre minha própria vida. Nesta curta trajetória, muitas pequenas conquistas, cada uma valorizada e comemorada a rigor. Mas sem dúvida, essa é a maior de todas.

Em todos que vieram me cumprimentar, vi alguma ligação com o ‘Alvaro Jornalista’ que é gestado desde a infância. Essas reminiscências também se evidenciaram quando parei para refletir sobre a formação do meu gosto pela comunicação, que se funde com minha personalidade.

Um caldo de referências, de exemplos e inspirações lapidou esse gosto pela palavra. O falante vendedor de pastéis, com 12 anos;

O comunicativo guia turístico, aos 14;

O inquieto produtor de rádio, aos 17 anos;

O sonhador jovem que encarou Porto Alegre aos 21.

Em cada dia destas etapas, pessoas, situações e acontecimentos me deram suporte e contribuíram para que hoje eu esteja trilhando um bom caminho na carreira jornalística.

Sinto-me obrigado a agradecer algumas pessoas:

- Minha família: Mãe Denise, pessoa que me ensinou o que é humildade e humanidade. Pai Silvio, que me deu o dom da oratória e me proporcionou o convívio com o jornalismo desde cedo; Tios Binho e Zaida: ensinaram-me o valor do trabalho. Minha namorada Janaina, companheira fiel nos piores momentos.

- Os profissionais: Antonio Alberto Lucca e Leonardo Bratti, proprietários da Rádio Encantado AM, onde tive a oportunidade e a liberdade para fazer radiojornalismo. Toni Perondi e Valmir Feil, homens de rádio que sempre apostaram no meu potencial.

Mário Pool e Louise Lage, que na Ulbra TV me abriram os caminhos e acreditaram num guri para chefiar a produção e a reportagem no departamento de telejornalismo.

Cada ser humano que cruzou meu caminho e de alguma forma modificou positivamente meu modo de compreender o mundo tem uma parcela de contribuição neste jovem jornalista, cheio de sonhos e objetivos. Que aos poucos serão cumpridos, um de cada vez.

Portanto, compartilho com cada um essa pequena conquista.

Muito obrigado,

Alvaro.

A repercussão completa da final do PP/ZH:

http://wp.clicrbs.com.br/editor/2010/08/07/alvaro-ganha-sua-grande-reportagem/?topo=13,1,1,,,13

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Os més pelas pãos

Ermilha e vilho.



Seleta coletiva...


Dixlesia.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

A natureza de um insatisfeito

Alguns seres humanos são movidos pela insatisfação.

Dificilmente contentam-se com o status quo e diuturnamente buscam a mudança.

Tão logo se estafam de uma condição de vida, passam a conjecturar possibilidades de inverter a lógica existencial: emprego, relacionamentos, objetivos.

Traçar metas, novos planos, outros vôos: para essa categoria o céu não é o limite.

O tempo de gozar o prazer de uma conquista é efêmero.

Um objetivo maior sempre está no horizonte.

Apaixonam-se perdidamente.

Vivem esse amor com a intensidade de um mar revolto.

Afogam-se no prazer de compartilhar e descobrir-se mutuamente.

Mas a fugacidade é imperativa.

A necessidade de um novo recomeço atordoa essa alma inconstante.

A rotina sufoca, maltrata.

A previsibilidade é um veneno que aos poucos mata o ímpeto e espontaneidade.

O improviso e o desafio seduzem.

O risco do inédito é o que nos move.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Folha de Papel

Misericordiosa folha de papel.

Tudo aceita, obsequiosamente silenciosa, passivamente leal.

Companheira das horas eufóricas, melancólicas e alcoólicas.

Folha amiga: permita que eu derrame toda a incompreensão dos meus questionamentos.

Ávida, pura: uma folha em branco é uma bolha prestes a aprisionar um sentimento.

Borrada pelas letras, fonemas e sílabas, me ajuda a dar sentido aos contornos da alma

em forma de palavras.

Fiel folha de papel: uma amiga eterna dos seres que gritam silenciosos pelo mundo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Crônica - A noite e seus truques

A porta está entreaberta. Aproximo-me e ouço sussurros e gemidos. Um pouco mais próximo, vejo o vulto de um casal sobre a cama. Ela está montada por cima, levemente inclinada. O suficiente para que seus fartos seios encubram o rosto do homem que transa com ela. Ao fundo, outro homem. Ele está vestido, de pernas cruzadas e fumando um cigarro. Ao lado dele, uma mesa com três copos de cerveja. O observador é na verdade o marido da mulher que participa do ato.


Estou em uma casa de swing.


O ambiente é simples. No primeiro andar, uma ampla sala com diversas mesas dispostas próximas as paredes. No meio do salão, barras para dançarinas executarem suas habilidades no pole dance. Ao fundo, um chuveiro de espuma. Uma mulher solitária vestida com uma camiseta branca encharcada e colada ao corpo dança sob olhares dispersos de uma dúzia de freqüentadores. É possível ver apenas a silhueta de suas curvas e o desenho dos mamilos arrepiados pelo frio.


No segundo andar, um corredor estreito é formado por finas paredes de maderite, que servem de divisórias para mais de uma dúzia de pequenos quartos. Em cada um, camas caprichosamente forradas com lençóis brancos. Um cartaz alerta os voyeurs: ‘proibido fotos e filmagens neste ambiente’.


A folclórica luz vermelha não existe. Aqui a luz negra é que quebra a penumbra dos ambientes. E nada de música sertaneja em volumes insuportáveis. A sonorização é tecno, mas é possível conversar tranquilamente. “Quem vem pra cá ta a fim de curtir algo diferente, sair da rotina”, me explica P.R., 29 anos, meu guia nesta noite de quarta-feira pelas ruas da zona norte de Porto Alegre.


Durante a semana ele é motorista. As sextas e sábados atua como go-go boy em despedidas de solteira. Em outros momentos, veste a profissão de michê. “Mas isso não é vida. Faço porque adoro sexo e estou com saúde para dar e vender”, explica.


A entrada na boate custa 80 reais e dá direito ao freqüentador fazer tudo que quiser, desde que de comum acordo com os outros freqüentadores. “É tudo liberado, vai da química entre o pessoal”. Nas noites de grande movimento, o local se parece com a Roma Antiga. Homens e mulheres seminus transitam entre os pequenos quartos e trocam de casais e parceiros, sem qualquer preconceito. “Quem vem pra cá, sabe o que quer, sabe o que vai encontrar, então, a idéia é curtir”.


A filha do proprietário é quem administra o ambiente. Questiono se ela não se sente constrangida “É um trabalho honesto como outro qualquer. Tratamos todos com respeito e também sou tratada assim”. P.R. complementa “esse é um ambiente tão comum como qualquer outro. A gente senta, conversa, e se rola um interesse, o casal convida para participar de uma orgia”, conta com a mesma calma de quem explica uma receita de bolo.


Não há um perfil específico dos freqüentadores: casados, solteiros, pessoas de diversas classes sociais com idades entre 25 e 45 anos. Todos atrás de diversão “A noite é um truque”, diz P.R. “Meu único vício é o sexo. Não bebo e não uso drogas. Mas quando saio pra noite, não durmo sozinho, muito pelo contrário”.


Na saída, mais uma cena inusitada. Percebo que algumas pessoas no salão olham para cima. Me viro e enxergo um mezanino totalmente envidraçado, que abriga uma cama de casal. Lá, um trio exibicionista transa sem se importar com os observadores que estão logo abaixo. Nem imagino quem é o convidado e quem é o casal. Mas todos parecem muito felizes. E compenetrados na atividade.

Cores



segunda-feira, 28 de junho de 2010

As musas

De que matéria são feitas as musas? Mulheres que inspiram e enlouquecem os homens desavisados de seus perfis sinuosos e tentadores. Fontes indispensáveis àqueles que necessitam expressar a subjetividade dos sentimentos humanos.

Como arriscar desvendar o mistério que se esconde no âmago de uma musa? Impossível. Elas são indecifráveis e devoram-nos sem ao menos conceder uma chance. São um composto alquímico de ternura, fascínio e sedução.

Inexplicavelmente se instalam no coração e na alma de um homem como se uma doença incurável fossem. E talvez sejam.

Musas...criaturas que Deus espalha pelo universo, como constantes
fontes da juventude, permanentemente a postos daqueles que ousam desfrutá-las. Com uma mão servem toda graça de seu charme; com outra, se apoderam do coração inocente que se arrisca nas curvas enigmáticas de seus sorrisos. O olhar de uma musa fica indelevelmente registrado na memória do incauto que o fitar. Atormentá-lo-á diuturnamente, provocando-lhe delírios em plena luz do dia ou na mais profunda noite de sono.

O homem embebido pelo deleite de uma musa vive numa sintonia diferente dos demais; a musa lhe revigora e o faz sentir o mundo em outra vibração. O descompasso do coração estremece o corpo, que reverbera até a ponta das mãos. Os dedos transformam essa energia misteriosa em devaneios; pintam, escrevem, enlouquecem.

A atenção que uma musa dispensa a um homem equivale ao canto de uma sereia, a uma dose de morfina. Musas têm Ph volátil. Ora são ácidas e nos corroem sem piedade; Noutra, neutralizam todas nossas angústias e equilibram essa complexa rotina; Mas uma musa jamais tem Ph neutro. Não é de sua natureza a impassividade. Involuntariamente são ativas. Pobre do corpo que absorve esse coquetel de encantamento; os poros são entupidos dessa onda invisível de delírio e o metaboliza, bombando para todo organismo a tragédia em forma de graça e poesia.

Uma musa jamais age movida pela crueldade. A malícia de seus trejeitos, a cor cintilante de sua voz ou a inesquecível textura de sua pele são inerentes a sua própria vontade. Se manifestam à revelia de sua intenção e explodem para o universo, livres como cabelos soltos ao vento num entardecer de outono.

Mas feliz do homem que consegue cativar sua musa. Quando ela se vê refletida de forma tão eficiente na expressão desse homem, encanta-se pela forma ainda mais bela de sua própria beleza, ficando igualmente enfeitiçada e ainda mais bela. A constante reflexão dessas energias cria um dínamo eterno de paixão, encantamento e psicose.

Uma loucura deliciosamente fora de controle.

“Comigo a anatomia se vê louca. Sou todo coração”.
Maiakovski

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Tô dentro!


Comecei bem a semana. Fiquei sabendo por amigos que meu nome estava na ZH dominical...Sou um dos 10 finalistas do concurso 'Primeira Pauta'. Próxima 'peneira' será através de uma reportagem acompanhando um grupo de torcedores brasileiros durante um dos jogos da seleção na primeira fase da Copa. Ficar entre os 10 já valeu a inscrição, mas bora lá...
Abaixo, o texto que enviei para concorrer e depois a matéria da ZH de 13/06/2010:


O que você espera de um jornal?

Num tempo em que somos bombardeados por informações de todos os lados e por todos os meios, espero que um jornal tenha a capacidade de me surpreender e me levar à reflexão. Por surpresa não me refiro à possibilidade de dar 'furos' todos os dias, mas sim, trazer um novo ângulo sobre uma notícia; aprofundar um fato; explorar o ponto de vista inusitado sobre o acontecimento. O caso do mendigo prateado foi exemplar: o jornalista José Luis Costa obteve a façanha de trazer todas as informações e ao mesmo tempo aprofundar a notícia como nenhum outro veículo fez. A reportagem me informou, mas também me provocou revolta e indignação sobre o fato. É isso que espero de um jornal; que as informações não sejam simplesmente repassadas, mas carreguem o sentimento de quem a presenciou e, assim, aproximem leitor do fato, inspirando indignação ou regozijo. A notícia e o tratamento que um jornal lhe dá precisam ir além do 'fazer saber'. Deve necessariamente instigar a reflexão sobre o mundo em que vivemos.

Esse jornal não pode deixar dúvidas sobre seu posicionamento na sociedade, encampando lutas e campanhas, criticando os excessos dos homens públicos, sempre proporcionando isonomia na abordagem de temas polêmicos.

Espero que um jornal me informe, mas também me forme: desejo ser um cidadão com caráter, uma pessoa com opinião e posicionamento definido, capaz de debater e defender pontos de vista. Assim, espero que esse jornal me dê subsídios para sustentar meus argumentos e ser uma pessoa convicta de meus conceitos.

ZH - 13/06/2010

Primeira Pauta divulga nomes dos 10 finalistas

Projeto promovido por ZH vai escolher estudante de Jornalismo para acompanhar reportagemDez futuros jornalistas do Estado estão mais próximos de realizar o sonho de todo aspirante a repórter: participar de uma grande reportagem. Em sua segunda edição, o concurso cultural Primeira Pauta selecionará um estudante de Jornalismo que participará de todas as etapas de uma reportagem: da discussão do tema à publicação. Os finalistas já foram escolhidos.

Nesta etapa do concurso, os 10 selecionados deverão escrever um texto com o seguinte tema: “Acompanhe um dos três jogos da Seleção Brasileira na primeira fase da Copa do Mundo junto a uma torcida – pode ser com a família, amigos, num bar, num local público – e descreva essa experiência. Imagine que esse texto seria publicado junto à cobertura de Zero Hora no dia seguinte ao jogo”. Para complementar, o estudante também pode enviar fotos e vídeos. O resultado será divulgado na edição de Zero Hora do dia 8 de agosto e no site www.zerohora.com

Assim como ocorreu com a estudante Mariana Müller, 21 anos, vencedora do ano passado, o selecionado terá a oportunidade de conhecer todas as etapas de elaboração de uma reportagem: da definição da pauta, quando as ideias são confrontadas, ao trabalho de campo, que é a parte que envolve a aventura e a emoção de conhecer lugares e pessoas, à escolha das fotografias, a redação e edição dos textos para o jornal impresso e online.

Além da observação da equipe em campo, o universitário relatará suas experiências em forma de diário, publicado com a reportagem de ZH.

Os selecionados
Confira o nome dos 10 selecionados na primeira etapa:
- 1 - Álvaro Andrade
(Porto Alegre)

- 2 - Andressa Fordie Pazzini
(São Leopoldo)
- 3 - Caroline Polonio Torterola
(Porto Alegre)
- 4 - Emilia de Moura
(Passo Fundo)
- 5 - Gabriela Simoni da Silva
(Sapiranga)
- 6 - Gislaine A.M. Monteiro
(Novo Hamburgo)
- 7 - Marilei Pessatti
(Soledade)
- 8 - Mateus Andrighetto Tamiozzo
(Ijuí)
- 9 - Pricilla Farina Soares
(São Lourenço do Sul)
- 10 - Thiago Tieze
(Porto Alegre)

A PARTIR DE AGORA NOVA ETAPA

- Os 10 selecionados terão de escrever um novo texto, com o seguinte tema: “Acompanhe um dos três jogos da Seleção Brasileira na primeira fase da Copa do Mundo junto a uma torcida – pode ser com a família, amigos, num bar, num local público – e descreva essa experiência. Imagine que esse texto seria publicado junto à cobertura de Zero Hora no dia seguinte ao jogo”. Além do texto, de 1,8 mil caracteres, você pode enviar fotos e vídeos para complementá-lo.

COMO ENVIAR
- Seu texto deverá ser enviado até as 23h59min do dia 30 de junho, por e-mail, para geral@zerohora.com.br, com o título “Primeira Pauta 2010”. Os textos deverão ter no máximo 1,8 mil caracteres.
JULGAMENTO
- Os critérios para a escolha serão criatividade, originalidade, adequação ao tema proposto, objetividade, qualidade jornalística do texto e desenvolvimento lógico.
ÚLTIMA FASE
- Entre os 10 textos, cinco serão escolhidos para a última etapa do concurso cultural. Os nomes dos classificados serão divulgados na edição de Zero Hora do dia 18 de julho. Os estudantes selecionados ainda participarão de uma prova de texto e de uma entrevista com repórteres e editores na Redação do jornal.
RESULTADO
- O resultado final será conhecido em 8 de agosto

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A graça e a tragédia do existir

Quando meu coração dispara, minha pulsação vibra na veia mais espessa
do meu pescoço e não sei mais o que fazer, me pergunto:

- que realidade é essa.?
(suspiro fundo)

Nesse momento experimento uma mistura de euforia com intensa
confusão mental.

Uma ezquisofrenia existencial.

Estar aqui, sentir dessa forma. Pessoas, relacionamentos, sonhos, lutas e ilusões.
A vida é subjetividade pura.

Nada é permanente, perene, eterno, duro,
completamente verdadeiro e verdadeiramente puro.

Cada um carrega um universo próprio,
criado a partir de si, da sua visão e convicção.

Para uns verde-água é azul claro; outros juram que é contrário.
Sem falar nos teimosos e nos daltônicos...

Cada pessoa desenvolve um imaginário próprio sobre a realidade que o cerca.
Bem verdade, que muitas coisas são absorvidas do imaginário coletivo,
mas cada detalhe que compõe cada molécula da matéria

é observado,
julgado,
entendido
e construído

sob
um olhar i n d i v i d u a l das infinitas pessoas que vivem nesse planeta.

Então temos milhares de universos individuais que precisam conviver em harmonia.

E essa é a paranóia.

Meu mundo, desejado e acalentado em cada ato da minha vida, jamais será.

Ele não pode existir porque ao se chocar com outros corpos precisará

modificar-se.

Volto à subjetividade do ser humano.

O livre arbítrio e a capacidade de sentir são ao mesmo tempo
os maiores flagelos e melhores prazeres da existência.

O próximo segundo sempre será inédito e acontecerá
de acordo com o que você quiser e de o que você sentir.

Taí graça e a tragédia desse delírio que é viver.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Aonde vai chegar assim?

Que tenho alma de velho, todo mundo já percebeu. Gosto de vinho, vinil e morro de saudades da minha infância, mesmo que ela tenha acabado há pouco anos. Sou saudosista desde que saí do útero da dona Denise.

Mas percebo que meu corpo também envelhece. E tudo isso em pouco tempo: a rotina sedentária adotada em função do trabalho cobra seu preço.

Comunicação.

Quem lida com ela sabe que o meio é altamente estressante. Ansioso que sou por natureza, noto no organismo a deterioração daquilo que deveria ser mais precioso na existência: a preservação da saúde e do bem estar humano. Corpo e espírito foram deixados de lado. Só cumpro as necessidades fisiológicas básicas a sobrevivência.

Estresse, pouco sono, má alimentação e a inevitável boemia: quilos na balança, dores no corpo e acúmulo silencioso de problemas futuros. Num mundo cada vez mais instantâneo, desconectar-se da sociedade da informação é impossível, ainda mais para quem justamente trabalha com informação. Não há mais jornada de trabalho, estamos 24 horas ligados no que acontece. Tudo para não corrermos o risco de ficar para trás.

E quem não se compromete, não tem futuro. É preciso estar disponível full time.

Mas onde isso vai nos levar? Que sonhos serão conquistados a partir de tantos sacrifícios? Vale a pena toda essa dedicação em nome da realização profissional e pessoal?

Tenho me feito estes questionamentos. Vejo colegas que assim como eu, tão jovens que somos, já imersos numa rotina massacrante. Em nome da dita realização profissional até os ideais e valores são deixados de lado. Mas a preço de quê mesmo?

Não seria muito mais proveitoso para um ideal de existência evolutiva dedicar minha vida a algo mais nobre do que trabalhar 24 horas por dia? O mundo é tão grande, há tanto a desbravar, conhecer, experimentar...e por medo de não ser ninguém e aí mesmo que não acontecemos.

Ficamos presos a esta rotina que nos mata aos poucos, quando poderíamos estar pelos quatro cantos do planeta, vivendo, no real sentido da palavra.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Perdido na noite

Uma ligação perdida, uma chamada não atendida.

Noite solitária, garrafa vazia.

Ébrio, saudade, utopia.

Um dia quem sabe, de tudo isso a gente ria.

sábado, 22 de maio de 2010

Minha Cidade Baixa querida


Através do vidro trincado, olho o horizonte de prédios oprimidos por um céu acizentado.


Procuro o sol esperando vê-lo partir pelas últimas vezes.

Estou indo embora, Cidade Baixa. Lugar que povoou meus sonhos durante toda minha juventude, agora não será mais o meu quintal. Aqui me senti bem porque me senti em casa.

A República cheia de árvores, as mesas na calçada; as tias caminhando com seus poodles convivem no mesmo metro quadrado com hippies, lésbicas, punks, emos, boêmios e bêbados: a CB é o lugar onde todos buscam sonhos, onde se vive diferente . É um bairro do interior no meio da cidade grande.

Sei que Redenção vai continuar ali me esperando para um passeio com um chimas. Mas aí serei um intruso e o lago do dragão não será mais parte da minha casa. Sempre serei um visitante do OCIP ou do zaffari da lima.

Mas mais do que a nostalgia de deixar toda essa atmosfera de liberdade para trás, o que mais incomoda é pensar que estou dando outro passo, amadurecendo mais um pouco. Serei mais responsável, o Van Gogh estará mais longe. Minha rotina será alterada completamente e isso assusta.

Pela janela, o sol começa a querer romper o escudo de nuvens densas e insensíveis.
Lembro de tudo que vivi e das pessoas que conheci na CB. Quantos sonhos tive olhando o pôr-do-sol; quantas tristezas sofri ao vê-lo nascer de novo. Quanto amor vivi ao som da chuva e do vento na altura do décimo andar.

Outro endereço, outra fase. E lá não tem pôr-do-sol.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dica

Numa manhã, ao embarcar no ônibus pra Navegantes, Gregório Sonso deu 1 real ao menino que vendia bala e viu-se transfigurado na gigante goma que comprara.

Israel de Castro
no excelente O fofi do ofidã

Procuro


Anoitece, amanhece. Tudo parece irritantemente repetitivo. Sol, chuva, vento, sol de novo. Ciclos, retomadas, déjàvu. Idealizar estímulos no futuro para anestesiar o peso da rotina. Sonho: o psicotrópico mais forte que existe. Alucinação gratuita. Em transe, acordado, dormindo, transando.

Fugir. Acelerar o tempo e acordar em outro corpo, em outro mundo. Transmutar-se num ser não-inventado, desconhecido. Como na metamorfose de Kafka, delirar. Conhecer outro meio de vida, outro ritmo de existência. Uma ordem inversa, uma lógica desconhecida.

Ir para o lugar onde mentira signifique verdade e que verdade seja o ar que se respira. Lá só se vive. O único objetivo é amar e ser feliz, assim como aqui só cultiva-se vaidade e desafeto.

Mas estou aqui. Esta é minha dimensão e realidade. O azul é azul, ventilador é ventilador e o mundo está aqui do lado de fora de minha janela.

Durmo, sonho e por alguns instantes fujo, sozinho, para percorrer esses lugares que só terei vagas lembranças ao acordar e encarar a realidade repetitiva e nonsense que significa vida. Ou quem sabe seja tudo ao contrário: sonhar é que é viver. Acordados estamos mesmo é dormindo e vagando sem sentido.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Viva a inconseqüência!

Seria correto dar tanto peso às decisões?

Escolher um caminho muitas vezes se torna um desafio, tamanha a cobrança que se impõe ao resultado esperado.

A inconsequência deveria estar mais em voga.

Pensar e planejar demais é cansativo. Aliás, é muita pretensão acreditar que o futuro é resultado de cada ação realizada no presente.

O destino é vago como reticências soltas numa folha de papel em branco.

O moderno way of life nos leva a idealizar o futuro e nos faz esquecer de curtir o presente.

Neuróticos com a possibilidade de errar, esquecemos que é pura diversão tentar, experimentar, errar, tropeçar, cair e começar de novo.

Martirizar o ato de viver é a prova da covardia.
É cegar os olhos com medo da luz.

Liberdade ao sentimento, erro sem culpa.

Vida sem medo.


Eis o lema do outono, talvez tardio.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vácuo sentimental

O medo de arriscar bloqueia a felicidade.

O comodismo cotidiano limita as possibilidades infinitas da existência.

Se jogar no vazio, caminhar no escuro, flutuar entre as incertezas: se a covardia não fosse mais forte que qualquer outro sentimento, a vida seria mais simples.

Mas talvez seja essa a razão do viver: complicar e sofrer.

terça-feira, 4 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

No psiquiatra

Ansiedade. Esse foi o diagnóstico do psiquiatra que me atendeu agora há pouco. Isso depois dele olhar três vezes pro relógio durante a consulta. Provavelmente o consultório psiquiátrico não é o foro adequado para discutir o que quero. O médico que me atendeu esperava um paciente maníaco-depressivo, suicida... Menos um rapaz que apenas quer discutir dúvidas, se livrar de vícios e falar. Falar muito.

Deixei claro que não tenho interesse em tratamento com medicação. Sentei, falei da minha vida em 30 minutos e a única coisa que ele fez ao cabo do monólogo foi receitar um medicamento e perguntar-me:

- O que esperava da consulta?

Por fim, me alertou dos efeitos colaterais:

- Causa retardo ejaculatório.

Resultado: Saí mais confuso e ansioso. Vai saber se vou conseguir ter orgasmos.

Ou vou ter que me dedicar ao sexo tântrico.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A saúde da alma

Fui ao médico dia desses. Pedi um check-up geral. Eletro, rins, tireóide, gorduras... Fígado e pulmões também, é claro.

A meu pedido, fui encaminhado a um psiquiatra.
Quero discutir minha vida com alguém.

Mas o mais interessante foi fazer o raio-X. Olhar o que há por dentro de mim. No meio de órgãos, vasos, veias, sangue há um ser vivo movido por todo aquele trabalho perfeito, que nunca pára.

Se no passado as pessoas acreditavam que a fotografia roubava a alma das pessoas, o que dizer do raio-X? Ele mostra o que há no interior do ser humano, mas não passa de um contraste escuro entre ossos e massa corporal. Uma pena.

Ele jamais me ajudaria a ver o que gostaria, a entender o que não compreendo.

A ciência não conseguirá produzir o raio-X da alma, que decifre o que nem nós mesmos entendemos. Que cure a chaga do medo, que receite analgésico para a dor do amor.

Vejo que meu psiquiatra precisará muita paciência.
Ou ele que invente o tal raio-X da alma.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Fica a Dica

O que acontece no cérebro quando estamos apaixonados? Como isso influencia no nosso dia-a-dia, no nosso jeito de ser? Quanto tempo esse estado de apaixonamento permanece? Para responder a essas e outras perguntas, a psiquiatra Betina Mariante Cardoso participará do Papos & Ideias da Livraria Saraiva do Moinhos Shopping nesta quarta-feira, dia 28, às 19h30. Os encontros mensais sobre a biologia do amor e do ciúme traz o tema Comportamentos da Neurobiologia da Paixão e do Amor. Imperdível para os apaixonados de plantão.

SERVIÇO:

Palestra: Comportamentos da Neurobiologia da Paixão e do Amor

Palestrante: Betina Mariante Cardoso, psiquiatra

Onde: Livraria Saraiva – Moinhos Shopping, Porto Alegre

Quando: 28 de abril, quarta-feira, às 19h30

Aberto ao público e gratuito

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

LSD



"Lucy in the Sky with Diamonds" é o título de uma canção composta e gravada pelos Beatles em 1967, e faz parte do oitavo álbum da banda, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Composta por John Lennon, a canção é interpretada como uma alusão ao LSD, tanto pelas letras iniciais das palavras que compõem o título, bem como pela letra, carregada de psicodelia.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Liberdade

Em dias que grandes meios de comunicação deturpam e alienam a massa, e nos martirizamos por ver que parte da imprensa se diz imparcial quando na verdade não é, vale relembrar casos de alguns anos atrás. Neste por exemplo, O Gal. Newton Cruz, chefe do escritório central do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), dá uma carraspana pública em um jornalista. Auge da ditadura militar.

Liberdade, aquela pela qual morreram Cristo e Tiradentes, não tem circunstância em que não seja desejável. Por mais que deturpem valores, que o excesso resulte em libertinagem, que os conceitos sejam vagos, a liberdade sempre deve ser premissa básica da sociedade e de todo ser humano.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Pergunta

Quando falamos "um dia" para temporalizar alguma coisa,

estaríamos apenas desconhecendo o futuro

ou nos eximindo do momento presente?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Utopia e Barbárie

Sai da sala de cinema, me escorei na parede e acendi um cigarro para puxar o fôlego. Aquelas duas horas de exibição me deixaram atordoados.

O aperto de mão firme, o olho no olho com Silvio Tendler pareciam me colocar na responsabilidade. Ele certamente pensava: "Garoto, você pode mais".

Uma pré-estreia concorrida, é verdade. Mas bem distante do que será 'Alice no País das Maravilhas', na próxima quarta-feira. Essa é apenas uma das idiossincrasias da vida do século XXI.

Repudiar o capital, mas ao mesmo tempo desfrutar de todos seus prazeres. No coquetel, comunistas tomam champagne e se fartam de canapés.

E foi com esse tipo de culpa que saí do Cine Bancários na noite quente desta segunda-feira. O mais recente documentário de Silvio Tendler é 'Utopia e Barbárie'. Gravado ao longo dos útimos vinte anos, colhe depoimentos de figuras centrais do ativismo político e costura os acontecimentos históricos que deram rumos ao atual establishment politico moderno.

E observando os fatos, refletindo sobre a disputa de forças e ideologias que delideneram o futuro (o nosso presente!), percebi como eram desapegados os homens e mulheres que tinham ideais nobres e que por eles lutavam, sofriam e morriam.

Tendler esfregou na minha face toda minha apatia e inércia.

Ok, hoje não há mais espaço para sair as ruas e os valores estão perdidos na nuvem dos interesses. O Socialismo Real se perdeu e a única esperança é a sociedade pós-globalizada. Não há sistema à derrubar, não há perseguição, tudo é feito dentro da ordem legal.

Inclusive a exploração.

O sitema nos corrompe. Ele é sutil e ardiloso.

Vaidades e prazeres nos fazem esquecer do sentido vital: igualdade e dignidade entre os homens.

Me consolo pensando que os tempos eram outros e as exigências também. Não passo de um fruto do lado vitorioso da Guerra Fria. Uma peça no sistema que se ocupa em trabalhar e 'ser alguém na vida'. Não faço nada de errado, mas sou apenas mais um animal confinado.

Vi que meu grande desejo de 'nascer em 50, ter 20 em 70 e morrer jovem aos 80' não se dá somente pela vontade das drogas e do sexo livre.

Eu não desejava apenas estar no show de Raul Seixas em 1982; queria estar no Chile de Allende, na passeata do 100 mil na Sé e até mesmo nos porões do DOPS.

Sentiria uma dor justificada e honrada.
Não seria apenas um jovem que pretensamente se julga politizado.
Não seria apenas um frustrado confuso entre ideologias, sem saber se vive pelos ideais ou morre pelos desejos.

Quando o que mais desejaria seria morrer por um ideal.

Utopia? sem dúvida.

Mas como ensina Tendler, toda vida viver a utopia à ser morto pela barbárie.