segunda-feira, 19 de abril de 2010

Utopia e Barbárie

Sai da sala de cinema, me escorei na parede e acendi um cigarro para puxar o fôlego. Aquelas duas horas de exibição me deixaram atordoados.

O aperto de mão firme, o olho no olho com Silvio Tendler pareciam me colocar na responsabilidade. Ele certamente pensava: "Garoto, você pode mais".

Uma pré-estreia concorrida, é verdade. Mas bem distante do que será 'Alice no País das Maravilhas', na próxima quarta-feira. Essa é apenas uma das idiossincrasias da vida do século XXI.

Repudiar o capital, mas ao mesmo tempo desfrutar de todos seus prazeres. No coquetel, comunistas tomam champagne e se fartam de canapés.

E foi com esse tipo de culpa que saí do Cine Bancários na noite quente desta segunda-feira. O mais recente documentário de Silvio Tendler é 'Utopia e Barbárie'. Gravado ao longo dos útimos vinte anos, colhe depoimentos de figuras centrais do ativismo político e costura os acontecimentos históricos que deram rumos ao atual establishment politico moderno.

E observando os fatos, refletindo sobre a disputa de forças e ideologias que delideneram o futuro (o nosso presente!), percebi como eram desapegados os homens e mulheres que tinham ideais nobres e que por eles lutavam, sofriam e morriam.

Tendler esfregou na minha face toda minha apatia e inércia.

Ok, hoje não há mais espaço para sair as ruas e os valores estão perdidos na nuvem dos interesses. O Socialismo Real se perdeu e a única esperança é a sociedade pós-globalizada. Não há sistema à derrubar, não há perseguição, tudo é feito dentro da ordem legal.

Inclusive a exploração.

O sitema nos corrompe. Ele é sutil e ardiloso.

Vaidades e prazeres nos fazem esquecer do sentido vital: igualdade e dignidade entre os homens.

Me consolo pensando que os tempos eram outros e as exigências também. Não passo de um fruto do lado vitorioso da Guerra Fria. Uma peça no sistema que se ocupa em trabalhar e 'ser alguém na vida'. Não faço nada de errado, mas sou apenas mais um animal confinado.

Vi que meu grande desejo de 'nascer em 50, ter 20 em 70 e morrer jovem aos 80' não se dá somente pela vontade das drogas e do sexo livre.

Eu não desejava apenas estar no show de Raul Seixas em 1982; queria estar no Chile de Allende, na passeata do 100 mil na Sé e até mesmo nos porões do DOPS.

Sentiria uma dor justificada e honrada.
Não seria apenas um jovem que pretensamente se julga politizado.
Não seria apenas um frustrado confuso entre ideologias, sem saber se vive pelos ideais ou morre pelos desejos.

Quando o que mais desejaria seria morrer por um ideal.

Utopia? sem dúvida.

Mas como ensina Tendler, toda vida viver a utopia à ser morto pela barbárie.

Um comentário:

  1. já tá em cartaz para os proletários e vagabundos? Hehehe... quantos mirréis? que jornalista anticapitalista tu é hehehe! e a "prestação de serviço"... (eta expressãozinha da porra...) hehehe qto a entrada no filme?

    Mas se é pra ficar ANGUSTIADO assim melhor nem assistir, não acha?

    Puta que pariu cara...lembra:

    Preso a minha classe e algumas roupas
    vou de branco pela rua cinzenta
    melancolias, mercadorias espreitam-me
    Devo seguir até o enjõo?
    posso, sem armas, revoltar-me?

    ...

    não, o tempo não chegou de completa justiça.
    o tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

    Ah Drummond...

    FODA!

    Forte abraço,
    Tommy Wine Beer.

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