quarta-feira, 27 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O sabor da melancolia

A chuva preguiçosa pinga na janela. A brisa da primavera sopra o cheiro de asfalto molhado.

O vinil de Toquinho, com os graves característicos dos toca-discos, batuca no compasso do coração.

"Morena, se acaso um dia
Tempestade te apanhar
Não foge da ventania,
Da chuva que rodopia,
Sou eu mesmo a te abraçar"

O âmbar do abajur cria suaves sobras no ambiente.

Olhos pesados pelo álcool, passam a enxergar a beleza dos últimos momentos vividos.

À mente vêm as lembranças dos dias mais felizes de uma breve (mas intensa) vida.

O sentimento de plenitude se amplia em um momento de melancolia tenra.

O Chile, os mineiros, os lugares e amigos que fiz neste outubro, contagiam minha alma.

A melancolia tem sabor de regozijo e plenitude.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O jogo

Ele tem 15 anos. Sua vida é a bola de futebol. Está determinado: será um craque. Não é pela fama, muito menos pelo dinheiro. Ele quer provar que pode ser tão bom quanto os outros. Não para os outros, mas para si mesmo.

Para esse menino, o desafio é contra si próprio.
Ele quer provar ao mundo que qualquer sonho é possível.
Afinal, sonhamos com aquilo que vemos. Se vemos, é porque já existe.
Se já existe, alguém o fez.

Se alguém o fez, ele também o fará.

Por mais que lhe digam que terá um futuro brilhante, desconfia.
Anda com a bola debaixo do braço, está sempre pronto para uma pelada.
Não quer perder a chance de mostrar que pode vencer.

Por aquelas reviravoltas do destino, ele foi chamado para jogar uma Copa do Mundo. Uma daquelas coisas surreais que só acontecem aos meninos que sonham.

Nos último dias esse menino encontrou Zico, Zidane, Ronaldinho Gaúcho.
Todos aqueles craques que ele tem um pôster na parede do quarto bateram bola com ele.

Na verdade foi um rachão. Ele teve 90 minutos para jogar a vida.
Suou a camisa. Cruzou, cabeceou, marcou.

Voltou confiante.

Ele tem certeza que um dia vai vestir a amarelinha.

sábado, 16 de outubro de 2010

Sobre o Chile

Texto publicado originalmente em: http://tinyurl.com/35hbxlg

Tenho 800 quilômetros para refletir sobre tudo que vivi ao lado de Rodrigo Lopes nestes quatro dias de cobertura internacional. Enquanto escrevo este texto, atravessamos metade do Chile pela famosa Ruta 5, com suas retas infindáveis e curvas perigosas, no caminho de volta pra casa. Serão doze horas de reflexão sobre o que aconteceu comigo nas últimas 100 horas vividas. Uma lua sorridente nos faz companhia nesta longa viagem.

Procuro o melhor termo para definir como saio desta experiência. Dizer que ‘mudou minha vida’ é simplório demais. Talvez ainda não encontrei a expressão correta porque não tenho a dimensão exata do que me aconteceu desde que deixei Porto Alegre no colorido entardecer do último domingo.

As horas vividas nesta expedição foram intensas. Jornalismo na real acepção da palavra. Estivemos diante do fato e o narramos incessantemente. Meu parceiro de viagem é um profissional que além de competente, ama o que faz. Talvez isso seja redundante, já que que essas definições são indissociáveis e se retroalimentam. Presenciei Rodrigo ficar acordado mais de 24 horas, alimentando-se de notícia. Incansável, deu-me mais do que liberdade para fazer a cobertura junto com ele: confiou e apostou no meu trabalho. Serei eternamente grato a esse novo grande amigo que fiz.

Nas nossas primeiras conversas, definimos tônica da cobertura: a emoção. E isso eu garanto que não nos faltou. Foram muitos os momentos em que o coração guiou nossas atitudes. A entrada na área do resgate, numa noite escura como poucas que já vivi, colocou nossos nervos à prova. Sem credenciamento, com medo de ficarmos de fora, cruzamos três barreiras policiais e conseguimos chegar até o acampamento Esperança. A equipe de dois homens, vibrou. No amanhecer seguinte, já devidamente credenciados, circulamos pelas tendas das famílias. Rostos apreensivos, falas pausadas e esperançosas. No meio da multidão de jornalistas, um senhor tocava violão entoando um canto melancólico. O nó na garganta só me permitiu observá-lo.

Depois de mais de 24 horas mal alimentados, fomos em busca de um restaurante em qualquer área minimamente civilizada. O carro apontou na direção da linha do horizonte, que divide o céu com o mar. Era o Oceano Pacífico se descortinando diante dos meus olhos, que se discretamente se marejaram de emoção.

Faltavam quatro minutos para as dez da noite de 13 de outubro de 2010. Das profundezas do deserto do Atacama renascia o último dos mineiros soterrados. A área da mina San Jose se tornou uma festa completa. Estava na sala de imprensa atualizando as informações para o minuto a minuto de zerohora.com. Rodrigo circulava pelas vielas do acampamento falando ao vivo na Rádio Gaúcha. Me levantei do computador e fui até a rua respirar o ar vitorioso que soprava no deserto.

Se meus pulmões se encheram daquela atmosfera triunfante, foi graças a confiança depositada em mim pelo Grupo RBS. Mas uma empresa é feita de pessoas, as quais faço questão de agradecer:

Ricardo Stefanelli, pela coragem de embarcar um garoto em uma cobertura deste porte;

Rosane Treméa, por todo apoio que me foi dedicado desde que venci o concurso Primeira Pauta;

Luciano Peres, o homem que nos deu a orientação editorial no meio de tanta informação;

Sandro Silveira, por nos colocar e nos tirar do Chile quando precisamos.

Agradeço também a todos os leitores, ouvintes e amigos que manifestaram apoio e parabenizaram nosso trabalho, dando a motivação necessária para que seguíssemos em frente.

Espero que essa tenha sido a primeira de muitas outras grandes pautas.

Sonhos

Sou um homem que mesmo acordado, experimentou sonhos incríveis.

Materializo essa certeza enquanto flutuo sobre um tapete de nuvens, voando sobre uma natureza virgem, depois de ter conhecido a entrada do Jardim do Éden.

Falei com o mundo e o mundo me ouviu.

Realizei sonhos para provar que sonhos são reais.

Vivê-los e senti-los só depende da nossa capacidade de acreditá-los.

Sonhos
são a prova inequívoca da capacidade humana se ser imagem e semelhança da perfeição.

Sonhar pode mudar nossas vidas.