sábado, 16 de outubro de 2010

Sobre o Chile

Texto publicado originalmente em: http://tinyurl.com/35hbxlg

Tenho 800 quilômetros para refletir sobre tudo que vivi ao lado de Rodrigo Lopes nestes quatro dias de cobertura internacional. Enquanto escrevo este texto, atravessamos metade do Chile pela famosa Ruta 5, com suas retas infindáveis e curvas perigosas, no caminho de volta pra casa. Serão doze horas de reflexão sobre o que aconteceu comigo nas últimas 100 horas vividas. Uma lua sorridente nos faz companhia nesta longa viagem.

Procuro o melhor termo para definir como saio desta experiência. Dizer que ‘mudou minha vida’ é simplório demais. Talvez ainda não encontrei a expressão correta porque não tenho a dimensão exata do que me aconteceu desde que deixei Porto Alegre no colorido entardecer do último domingo.

As horas vividas nesta expedição foram intensas. Jornalismo na real acepção da palavra. Estivemos diante do fato e o narramos incessantemente. Meu parceiro de viagem é um profissional que além de competente, ama o que faz. Talvez isso seja redundante, já que que essas definições são indissociáveis e se retroalimentam. Presenciei Rodrigo ficar acordado mais de 24 horas, alimentando-se de notícia. Incansável, deu-me mais do que liberdade para fazer a cobertura junto com ele: confiou e apostou no meu trabalho. Serei eternamente grato a esse novo grande amigo que fiz.

Nas nossas primeiras conversas, definimos tônica da cobertura: a emoção. E isso eu garanto que não nos faltou. Foram muitos os momentos em que o coração guiou nossas atitudes. A entrada na área do resgate, numa noite escura como poucas que já vivi, colocou nossos nervos à prova. Sem credenciamento, com medo de ficarmos de fora, cruzamos três barreiras policiais e conseguimos chegar até o acampamento Esperança. A equipe de dois homens, vibrou. No amanhecer seguinte, já devidamente credenciados, circulamos pelas tendas das famílias. Rostos apreensivos, falas pausadas e esperançosas. No meio da multidão de jornalistas, um senhor tocava violão entoando um canto melancólico. O nó na garganta só me permitiu observá-lo.

Depois de mais de 24 horas mal alimentados, fomos em busca de um restaurante em qualquer área minimamente civilizada. O carro apontou na direção da linha do horizonte, que divide o céu com o mar. Era o Oceano Pacífico se descortinando diante dos meus olhos, que se discretamente se marejaram de emoção.

Faltavam quatro minutos para as dez da noite de 13 de outubro de 2010. Das profundezas do deserto do Atacama renascia o último dos mineiros soterrados. A área da mina San Jose se tornou uma festa completa. Estava na sala de imprensa atualizando as informações para o minuto a minuto de zerohora.com. Rodrigo circulava pelas vielas do acampamento falando ao vivo na Rádio Gaúcha. Me levantei do computador e fui até a rua respirar o ar vitorioso que soprava no deserto.

Se meus pulmões se encheram daquela atmosfera triunfante, foi graças a confiança depositada em mim pelo Grupo RBS. Mas uma empresa é feita de pessoas, as quais faço questão de agradecer:

Ricardo Stefanelli, pela coragem de embarcar um garoto em uma cobertura deste porte;

Rosane Treméa, por todo apoio que me foi dedicado desde que venci o concurso Primeira Pauta;

Luciano Peres, o homem que nos deu a orientação editorial no meio de tanta informação;

Sandro Silveira, por nos colocar e nos tirar do Chile quando precisamos.

Agradeço também a todos os leitores, ouvintes e amigos que manifestaram apoio e parabenizaram nosso trabalho, dando a motivação necessária para que seguíssemos em frente.

Espero que essa tenha sido a primeira de muitas outras grandes pautas.

5 comentários:

  1. Bá' guri! Simplesmente magnífico! (Eu li tudo pra dizer isso)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Parabéns Álvaro! Pelo talento, pela coragem e pela poesia =)

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  4. Você tem uma qualidade rara de arrebanhar amigos por onde passa... Penso que esse é seu maior legado .Parabéns... Você mereceu tudo o que vivenciou.

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