quarta-feira, 28 de abril de 2010

A saúde da alma

Fui ao médico dia desses. Pedi um check-up geral. Eletro, rins, tireóide, gorduras... Fígado e pulmões também, é claro.

A meu pedido, fui encaminhado a um psiquiatra.
Quero discutir minha vida com alguém.

Mas o mais interessante foi fazer o raio-X. Olhar o que há por dentro de mim. No meio de órgãos, vasos, veias, sangue há um ser vivo movido por todo aquele trabalho perfeito, que nunca pára.

Se no passado as pessoas acreditavam que a fotografia roubava a alma das pessoas, o que dizer do raio-X? Ele mostra o que há no interior do ser humano, mas não passa de um contraste escuro entre ossos e massa corporal. Uma pena.

Ele jamais me ajudaria a ver o que gostaria, a entender o que não compreendo.

A ciência não conseguirá produzir o raio-X da alma, que decifre o que nem nós mesmos entendemos. Que cure a chaga do medo, que receite analgésico para a dor do amor.

Vejo que meu psiquiatra precisará muita paciência.
Ou ele que invente o tal raio-X da alma.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Fica a Dica

O que acontece no cérebro quando estamos apaixonados? Como isso influencia no nosso dia-a-dia, no nosso jeito de ser? Quanto tempo esse estado de apaixonamento permanece? Para responder a essas e outras perguntas, a psiquiatra Betina Mariante Cardoso participará do Papos & Ideias da Livraria Saraiva do Moinhos Shopping nesta quarta-feira, dia 28, às 19h30. Os encontros mensais sobre a biologia do amor e do ciúme traz o tema Comportamentos da Neurobiologia da Paixão e do Amor. Imperdível para os apaixonados de plantão.

SERVIÇO:

Palestra: Comportamentos da Neurobiologia da Paixão e do Amor

Palestrante: Betina Mariante Cardoso, psiquiatra

Onde: Livraria Saraiva – Moinhos Shopping, Porto Alegre

Quando: 28 de abril, quarta-feira, às 19h30

Aberto ao público e gratuito

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

LSD



"Lucy in the Sky with Diamonds" é o título de uma canção composta e gravada pelos Beatles em 1967, e faz parte do oitavo álbum da banda, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Composta por John Lennon, a canção é interpretada como uma alusão ao LSD, tanto pelas letras iniciais das palavras que compõem o título, bem como pela letra, carregada de psicodelia.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Liberdade

Em dias que grandes meios de comunicação deturpam e alienam a massa, e nos martirizamos por ver que parte da imprensa se diz imparcial quando na verdade não é, vale relembrar casos de alguns anos atrás. Neste por exemplo, O Gal. Newton Cruz, chefe do escritório central do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), dá uma carraspana pública em um jornalista. Auge da ditadura militar.

Liberdade, aquela pela qual morreram Cristo e Tiradentes, não tem circunstância em que não seja desejável. Por mais que deturpem valores, que o excesso resulte em libertinagem, que os conceitos sejam vagos, a liberdade sempre deve ser premissa básica da sociedade e de todo ser humano.


terça-feira, 20 de abril de 2010

Pergunta

Quando falamos "um dia" para temporalizar alguma coisa,

estaríamos apenas desconhecendo o futuro

ou nos eximindo do momento presente?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Utopia e Barbárie

Sai da sala de cinema, me escorei na parede e acendi um cigarro para puxar o fôlego. Aquelas duas horas de exibição me deixaram atordoados.

O aperto de mão firme, o olho no olho com Silvio Tendler pareciam me colocar na responsabilidade. Ele certamente pensava: "Garoto, você pode mais".

Uma pré-estreia concorrida, é verdade. Mas bem distante do que será 'Alice no País das Maravilhas', na próxima quarta-feira. Essa é apenas uma das idiossincrasias da vida do século XXI.

Repudiar o capital, mas ao mesmo tempo desfrutar de todos seus prazeres. No coquetel, comunistas tomam champagne e se fartam de canapés.

E foi com esse tipo de culpa que saí do Cine Bancários na noite quente desta segunda-feira. O mais recente documentário de Silvio Tendler é 'Utopia e Barbárie'. Gravado ao longo dos útimos vinte anos, colhe depoimentos de figuras centrais do ativismo político e costura os acontecimentos históricos que deram rumos ao atual establishment politico moderno.

E observando os fatos, refletindo sobre a disputa de forças e ideologias que delideneram o futuro (o nosso presente!), percebi como eram desapegados os homens e mulheres que tinham ideais nobres e que por eles lutavam, sofriam e morriam.

Tendler esfregou na minha face toda minha apatia e inércia.

Ok, hoje não há mais espaço para sair as ruas e os valores estão perdidos na nuvem dos interesses. O Socialismo Real se perdeu e a única esperança é a sociedade pós-globalizada. Não há sistema à derrubar, não há perseguição, tudo é feito dentro da ordem legal.

Inclusive a exploração.

O sitema nos corrompe. Ele é sutil e ardiloso.

Vaidades e prazeres nos fazem esquecer do sentido vital: igualdade e dignidade entre os homens.

Me consolo pensando que os tempos eram outros e as exigências também. Não passo de um fruto do lado vitorioso da Guerra Fria. Uma peça no sistema que se ocupa em trabalhar e 'ser alguém na vida'. Não faço nada de errado, mas sou apenas mais um animal confinado.

Vi que meu grande desejo de 'nascer em 50, ter 20 em 70 e morrer jovem aos 80' não se dá somente pela vontade das drogas e do sexo livre.

Eu não desejava apenas estar no show de Raul Seixas em 1982; queria estar no Chile de Allende, na passeata do 100 mil na Sé e até mesmo nos porões do DOPS.

Sentiria uma dor justificada e honrada.
Não seria apenas um jovem que pretensamente se julga politizado.
Não seria apenas um frustrado confuso entre ideologias, sem saber se vive pelos ideais ou morre pelos desejos.

Quando o que mais desejaria seria morrer por um ideal.

Utopia? sem dúvida.

Mas como ensina Tendler, toda vida viver a utopia à ser morto pela barbárie.

domingo, 18 de abril de 2010

Das coisas que queria ter vivido

Raulzito cantando Maluco Beleza no apoteótico show na Praia do Gonzaga, Santos - 1982.


Dicas de leitura dominicais

Apesar de ter alguns assuntos que quero escrever, o ócio me impede. Então encaminho os visitantes a algumas leituras interessantes. Bom domingo!


Em 'Agentes da Louca' o delicioso texto 'LA PIEDRA, MESTRE in Sannio'

"Aonde habitam os sonhos? Na morada de todos os arrependimentos e frustações. Na fronteira entre o mundo real e o imaginário.

Passos adiante das teorias filosóficas, das constatações da ciência. Do que lembramos da história e das vivências espirituais. Do que cremos, tememos e temos vontade.

Adiante dos desejos e dos impulsos. Do que é pobre e do que é ÓPRÓBRIO.

Neste mesmo universo, constituido por pensamentos e divagações. Residem os poetas e os alquimistas. Os tolos, os sábios e os andarilhos."


Tem ainda uma dica bacana da Rapha Flores no sempre indicado 'Um dia eu começo'.

"Por isso que eu digo: eternizem esses momentos. Assinem seus livros e discos, coloquem a data, escrevam dedicatórias quando forem presentear alguém! Não há nada mais incrível e emocionante que reler manuscritos antigos."


Reflexões políticas sobre o papel da mídia no Cidadania.com:

"Em primeiro lugar, temos que entender e aceitar que nenhuma pessoa honesta pode afirmar, com cem por cento de certeza, qual ou quais dos quatro mais importantes institutos de pesquisa que atuam no Brasil (Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi) diz ou dizem a verdade.

Só o que se pode afirmar sem sombra de dúvida é que ao menos um deles está mentindo descaradamente, de uma forma que julgo criminosa. Porque não é possível que pesquisas feitas com intervalo de algumas semanas apresentem resultados tão diferentes."

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cena urbana

Dois rapazes conversam no chafariz do Parque da Redenção.
Um senhor de barba grisalha, vestes simples, paramentado com alpargatas e com uma mala de garupa se aproxima:

- Meus amigos, desculpe atrapalhá a prosa. Vim de Uruguaiana e não voltei. Preciso i inté o Parque da Harmonia passá a noite e vim pedi um trocado.

Antes que qualquer um dos jovens questionasse, ele se adianta:

- Não é pra comê nem pra comprá passage. Preciso de uma de cachacinha porque daí até as pedra do caminho ficam mais macia!

E gargalhou.

De pronto levou dois reais, afinal, no mundo de hoje, a honestidade precisa ser valorizada.

Olhar para frente

Leitura matinal: A Terceira Onda, de Alvin Toffler
(Editora Record, 25ª edição.)


O assunto me despertou interesse na aula de Ciência Política, quando o professor Paulo Moura comentou a respeito. Semana passada achei o livro em sebo na Riachuelo.

Toffler sistematiza a evolução da humanidade em três grandes etapas, dividas em ondas. O sitema agrícola corresponde a primeira onda civilizatória, quando os seres humanos viviam em tribos e a agricultura era o centro da economia e da atividade social. Segundo ele, esta etapa tem início na pré-história, com as atividades de coleta e a formação das primeiras tribos.

A segunda etapa nasceu há 300 anos, com a Revolução Industrial que originou 'uma explosão que demoliu sociedades antigas e criou uma civilização inteiramente nova, modificando o modo de vida de milhões de pessoas'.

A abordagem dos dois primeiros ciclos é introdutória. A foco da obra é a Terceira Onda, da qual somos protagonistas. Toffler é otimista e afirma que todos os colapsos sociais e políticos de nossos tempos não passam de reações naturais a transição de uma era à outra. Alguns trechos grifados:

"Este livro baseia-se no que chamo a 'premissa revolucionária'. Ele estabelece que, embora as décadas a frente estejam cheias de turbulência e violência generalizada, nós não nos destruiremos totalmente. (...) Somos a última geração de uma velha geração e a primeira de uma nova geração. Muito de nossa angústia e desorientação pessoal, o constante conflito que existe dentro de nós se reflete nas instituições políticas e na sociedade."

"Duas imagens do futuro aparentemente contrastantes prendem hoje a imaginação popular. A maioria das pessoas - até o ponto em que se importam com o futuro - tomam como certo que o mundo que eles conhecem durará infinitamente. Acham dificil imaginar um modo de vida verdadeiramente diferente para eles, quanto mais uma civilização totalmente nova. Reconhcem que as coisas estão mudando, mas acham que as mudanças de hoje passarão de algum modo e nada abalará a estrutura familiar, política e social. Esperam confiantes que o futuro continuará o presente."

"Eventos recentes têm abalado a imagem confiante do futuro e uma visão mais desolada torna-se cada vez mais popular. (...) Grande número de pessoas são alimentadas por uma dieta constante de más notícias, filmes de desastres, contos bíblicos apocalípticos, e parecem ter concluído que a sociedade de hoje não pode ser projetada para o futuro porque não há futuro. Para eles o Armagedom, a grande batalha final está a apenas alguns minutos de distância. A Terra corre para seu derradeiro abalo cataclísmico."

Em suma, ele propõe a reflexão sobre algumas definições acerca de nossa sociedade, como as descritas como 'Idade Espacial', 'Idade da Informação', de uma 'Era Eletrônica ou de uma 'Aldeia Global', esta última a mais conhecida entre os afeitos às Teorias da Comunicação. Esta conjunção de possibilidades e novos conhecinentos são as forças que a atual civilização está criando e que podem levar a uma transição pacífica para uma nova sociedade, mais ajuizada, sábia e democrática. Uma sociedade que aparentemente ruma para a auto-destruição pode se transformar na mais evoluída da História.

O material de Toffler se úne ao meu racicínio sincrético.

A Era de Áquario.

Da wikipedia.org:

"Acerca dos efeitos visíveis na humanidade, é relatado que temos estado já a sentir as influências de Aquarius no desenvolvimento acelerado a nível individual, social, cultural, científico e tecnológico e na globalização ocorridos por todo o século XX.

Prediz-se que a Era Aquariana será uma era de fraternidade universal baseada na razão onde será possível solucionar os problemas sociais de maneira equitativa para todos e com grandiosas oportunidades para o desenvolvimento intelectual e espiritual, dado que Aquarius é um signo aéreo, científico, intelectual e o seu planeta regente, Uranus, é associado com a intuição (conhecimento acima da razão) e percepções directas do coração e, a nível mundano, este planeta rege a electricidade e tecnologia."

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pra onde vou

Dica pro findi:

O drama “Vidas que se Cruzam”, escrito e dirigido por Guillermo Arriaga (esse cara é foda, é o mesmo de "Babel" e "21 Gramas") – estreia nesta sexta-feira na província de São Pedro.

Sinopse:

O passado e o presente podem ter um efeito curioso sobre as pessoas separadas pelo espaço e pelo tempo. Mariana, uma garota de 16 anos, tenta unir as vidas destroçadas de seus pais em uma cidade na fronteira do México. Sylvia, uma mulher que vive em Portland, deve realizar uma odisseia emocional para apagar um pecado do passado. Gina e Nick são um casal que tem de lidar com um intenso e proibido caso. A jovem Maria precisa ajudar seus pais a encontrar a o perdão e o amor. Os cincos começarão suas próprias jornadas em busca de redenção e descobrirão que suas ações poderão fazer a diferença entre a vida e a morte.

Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger, Jennifer Lawrence, José María Yazpik, Joaquim de Almeida

IM-PER-DÍ-VEL.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Tiro ao Álvaro




De tanto levar
"frexada" do teu olhar
meu peito até
parece sabe o que?
"talbua" de tiro ao "álvaro"
não tem mais onde furar

teu olhar mata mais
do que bala de carabina
que veneno estriquinina
que pexeira de baiano

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
mata mais
Que bala de revorver.

De tanto levar
"frexada" do teu olhar
meu peito até
parece sabe o que?
"talbua" de tiro ao "álvaro"
não tem mais onde furar

teu olhar mata mais
do que bala de carabina
que veneno estriquinina
que pexeira de baiano

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel mata mais
Que bala de revorver.

Dia do Beijo

O melhor beijo é aquele que foi negado, mas um dia será dado.

Diferenças

As ruas do Bom Fim têm um charme diferente.

Estou acostumado com aquele movimento frenético da Cidade Baixa, ruas entupidas de gente, um bar em cima do outro, estilos tão variados quanto às marcas de cerveja vendidas por aqueles metros quadrados boêmios.

Mas a Osvaldo Aranha tem um quê retrô.

O lusco-fusco da avenida, os rostos que só podem ser vistos quando se aproximam.

Na lancheras, a diferença fica ainda mais exposta.

Rostos alternativos sim. Mas parecem mais maduros e carregados de intelectualidade. Não me parecem meros companheiros bebendo sem objetivo.

Um em frente ao outro, conversam em tom moderado, sem aquela gritaria costumeira dos botecos do meu bairro.

A Cidade Baixa é indie-rock.

O Bom Fim é MPB.


Pelas vielas, prédios familiares e aconchegantes.
Ruas silenciosas guardam mistérios a cada esquina e me fazem sentir de volta ao interior.

Não te sintas traída Cidade Baixa, não significa que não gosto de ti.

Só que minha paixão pelo Bom Fim foi despertada, e um dia, nós precisaremos romper nossa relação.

Mas não hoje, não agora.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um choro

Hoje meu coração chora

Chora por todos os sonhos interrompidos no meio da madrugada;

Chora por todos os amores desencontrados do mundo;

Chora emocionado com a beleza da vida.

Eu choro.

Choro por não censurar nenhum sentimento.

Choro pra sentir meu coração bater.

Choro por perceber que o rumo de nossa trajetória passa longe do nosso controle.

Ilusão

Pretensão

Imaginar que está tudo em nossas mãos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Arrumação

Arrumar a casa

Limpar as gavetas

Varrer a sujeira que está debaixo da cama.

Lavar a roupa suja.

Há tanto a fazer.

Organizar os livros, as meias e os pensamentos.

É dia de faxina, mas também de refletir.

Enquanto ensaboa a louça, ouve Vinícius.

“E por falar em saudade
Onde anda você
Onde andam os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
De tanto prazer”

A taça escorrega.
O vidro se quebra.
O dedo se corta.

O sangue mancha a espuma.

Agora resta juntar os cacos, fazer o curativo e esperar que o tempo cicatrize.

Desejos

Tinto, áspero.
Entre goles e tragadas, a busca pela razão.
Os dedos param no ar sobre o teclado, sem saber qual tecla será pressionada.

Ele busca dar algum sentido:

À sua vida, às palavras, aos sentimentos.

Sorve outra dose.

Coração e mente se degladiam no vácuo existencial.
Conquistou tudo que quis até aqui, mas ele quer mais.

Só não sabe o quê.

Deseja

Amar;
Voar;
Viver.

Mas qual o sentido?

Voar para onde?
Viver para quê?

Lhe resta o amor.
Que já é o bastante.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Palavras perdidas (assim como eu)

Coincidências são como Deus.

Será que realmente existem?
Ou somos nós que queremos acreditar?

****************************************

Um encontro inesperado, um olhar lânguido.
Um adeus que não quer ser dito.

****************************************

De que é feita a vida, se não de escolhas.
De que são feitas as escolhas, se não de dúvidas?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Das motivações

"Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes governam minha vida:

O desejo imenso de amar;

A busca pelo conhecimento;

E a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade".

Bertran Russel.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Anos vividos

Lendo o blog da colega jornalista Raphaela Flores (http://umdiaeucomeco.blogspot.com), sobre relatos de Nelson Motta e a efervescência cultural de décadas passadas, a epifania me proporcionou esse singelo verso que compartilho abaixo:

Queria ter nascido em 50,

para ter 20

em 70.

Nem que pra isso

morresse em 80,

apenas com 30.

Ode à Pingo

Quinze anos depois ele segue a mesma rotina. O tempo parece que parou naqueles metros quadrados onde lava caminhões e conserta pneus. A simplicidade do seu dia-dia é a mesma de suas vestes.

Pingo é o nome dele. Não imagino desde quando trabalha ali, mas agora, olhando pela janela do carro enquanto abasteço, percebo que para ele, o tempo não passou. A rotina e os afazeres são os mesmos. Até a expressão sofrida daquele rosto segue inalterada.

Passei minha infância transitando naquele posto de combustíveis. Ora para atalhar caminho para ir ao supermercado, ora para calibrar minha bola de futebol ou ainda buscar um litro de gasolina para limpar as peças da minha bicicleta.

Pingo sempre brincava comigo. A rivalidade grenal era motivo para piadas e brincadeiras. Quase duas décadas depois não sou mais aquela criança. Observo Pingo de longe e reflito por alguns instantes. Percebo que muita coisa mudou na minha vida, mas não na dele. O tempo passou. A bicicleta está enferrujada. A bola murchou. O mercado fechou. Mas Pingo segue lá, imune e alheio à sina implacável do relógio.

Saudades da minha infância. Nostalgia das tardes de diversão e total liberdade, onde minha única responsabilidade era ser feliz. Velho Pingo, que o tempo conserve a ti e as minhas saudosas memórias.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre mendigos e animais

Bestialidade. Arrogância. Ignorância.


Faltam adjetivos para qualificar a covardia praticada contra um morador de rua de Porto Alegre nesta Sexta-feira Santa. O mendigo teve o corpo pintado com tinta spray e ainda foi urinado. Os protagonistas do ato neste momento devem se regozijar do feito que obteve repercussão nacional.


Os motivos que levam ‘pessoas’ (?) a tal ato não deveriam estar previstos dentro da normalidade do comportamento humano. Mas numa sociedade em que a corrupção prospera e o mau está em cada esquina, não deveríamos mais nos surpreender com a capacidade das pessoas em serem maléficas.Mas a imagem choca. O rosto desolado do cidadão que tem a rua como lar, comove.


O olhar envergonhado e desconsolado de Vanderlei Pires é um escarro no nosso rosto. Sim, nós que nos comovemos apenas quando a desgraça é estampada na capa do jornal. Afinal, um mendigo não precisa ser pichado para ser humilhado. Sua própria condição já é sub-humana.

O que interessa para mídia (e aqui vai a mea-culpa) é tão somente a manchete. “Mendigo é pichado e urinado”. Isso dá IBOPE. Agora, aprofundar a informação, saber porque esse cidadão está na rua, de onde veio, como vive...alguém viu essa reportagem?


E assim é a nossa sociedade. Sempre que surge alguém com problemas ou enfrentando algum tipo de sofrimento, surge uma onda de solidariedade. Porque não nos dispomos a ser solidários diariamente? Afinal, há pessoas precisando de ajuda em todo lugar. A humanidade é feita do sofrimento desde os tempos de Jesus Cristo, mas nem por isso aprendemos a ajudar o próximo sem esperar nada em troca.


O mundo vive na base da troca de favores. Todo mundo se esforça visando receber alguma benesse em contrapartida. Não há desapego, tampouco altruísmo.


Compaixão e respeito são valores fora de moda. É piegas ser assim.


Cool é pichar mendigos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quinta Santa

Minha oração predileta. Boa Páscoa a todos.

'O Senhor é o meu pastor e nada me faltará.

Deita-me em verdes pastos e guia-me mansamente em águas tranqüilas..

Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me consolam.

Preparas-me uma mesa perante os meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR para todo o sempre.'