quinta-feira, 13 de maio de 2010

Procuro


Anoitece, amanhece. Tudo parece irritantemente repetitivo. Sol, chuva, vento, sol de novo. Ciclos, retomadas, déjàvu. Idealizar estímulos no futuro para anestesiar o peso da rotina. Sonho: o psicotrópico mais forte que existe. Alucinação gratuita. Em transe, acordado, dormindo, transando.

Fugir. Acelerar o tempo e acordar em outro corpo, em outro mundo. Transmutar-se num ser não-inventado, desconhecido. Como na metamorfose de Kafka, delirar. Conhecer outro meio de vida, outro ritmo de existência. Uma ordem inversa, uma lógica desconhecida.

Ir para o lugar onde mentira signifique verdade e que verdade seja o ar que se respira. Lá só se vive. O único objetivo é amar e ser feliz, assim como aqui só cultiva-se vaidade e desafeto.

Mas estou aqui. Esta é minha dimensão e realidade. O azul é azul, ventilador é ventilador e o mundo está aqui do lado de fora de minha janela.

Durmo, sonho e por alguns instantes fujo, sozinho, para percorrer esses lugares que só terei vagas lembranças ao acordar e encarar a realidade repetitiva e nonsense que significa vida. Ou quem sabe seja tudo ao contrário: sonhar é que é viver. Acordados estamos mesmo é dormindo e vagando sem sentido.

2 comentários:

  1. GOstei da frase: Idealizar estímulos no futuro para anestesiar o peso da rotina.

    Fudiloso esse texto! Tu me lembra Walt Whitman, embora eu não seja um grande conhecedor da obra dele.

    abração!
    Tommy Wine Beer.

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  2. sonhar é que é viver. Acordados estamos mesmo é dormindo e vagando sem sentido.

    tenho certeza.

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