Sai da sala de cinema, me escorei na parede e acendi um cigarro para puxar o fôlego. Aquelas duas horas de exibição me deixaram atordoados.
O aperto de mão firme, o olho no olho com Silvio Tendler pareciam me colocar na responsabilidade. Ele certamente pensava: "Garoto, você pode mais".
Uma pré-estreia concorrida, é verdade. Mas bem distante do que será 'Alice no País das Maravilhas', na próxima quarta-feira. Essa é apenas uma das idiossincrasias da vida do século XXI.
Repudiar o capital, mas ao mesmo tempo desfrutar de todos seus prazeres. No coquetel, comunistas tomam champagne e se fartam de canapés.
E foi com esse tipo de culpa que saí do Cine Bancários na noite quente desta segunda-feira. O mais recente documentário de Silvio Tendler é 'Utopia e Barbárie'. Gravado ao longo dos útimos vinte anos, colhe depoimentos de figuras centrais do ativismo político e costura os acontecimentos históricos que deram rumos ao atual establishment politico moderno.
E observando os fatos, refletindo sobre a disputa de forças e ideologias que delideneram o futuro (o nosso presente!), percebi como eram desapegados os homens e mulheres que tinham ideais nobres e que por eles lutavam, sofriam e morriam.
Tendler esfregou na minha face toda minha apatia e inércia.
Ok, hoje não há mais espaço para sair as ruas e os valores estão perdidos na nuvem dos interesses. O Socialismo Real se perdeu e a única esperança é a sociedade pós-globalizada. Não há sistema à derrubar, não há perseguição, tudo é feito dentro da ordem legal.
Inclusive a exploração.
O sitema nos corrompe. Ele é sutil e ardiloso.
Vaidades e prazeres nos fazem esquecer do sentido vital: igualdade e dignidade entre os homens.
Me consolo pensando que os tempos eram outros e as exigências também. Não passo de um fruto do lado vitorioso da Guerra Fria. Uma peça no sistema que se ocupa em trabalhar e 'ser alguém na vida'. Não faço nada de errado, mas sou apenas mais um animal confinado.
Vi que meu grande desejo de 'nascer em 50, ter 20 em 70 e morrer jovem aos 80' não se dá somente pela vontade das drogas e do sexo livre.
Eu não desejava apenas estar no show de Raul Seixas em 1982; queria estar no Chile de Allende, na passeata do 100 mil na Sé e até mesmo nos porões do DOPS.
Sentiria uma dor justificada e honrada.
Não seria apenas um jovem que pretensamente se julga politizado.
Não seria apenas um frustrado confuso entre ideologias, sem saber se vive pelos ideais ou morre pelos desejos.
Quando o que mais desejaria seria morrer por um ideal.
Utopia? sem dúvida.
Mas como ensina Tendler, toda vida viver a utopia à ser morto pela barbárie.
já tá em cartaz para os proletários e vagabundos? Hehehe... quantos mirréis? que jornalista anticapitalista tu é hehehe! e a "prestação de serviço"... (eta expressãozinha da porra...) hehehe qto a entrada no filme?
ResponderExcluirMas se é pra ficar ANGUSTIADO assim melhor nem assistir, não acha?
Puta que pariu cara...lembra:
Preso a minha classe e algumas roupas
vou de branco pela rua cinzenta
melancolias, mercadorias espreitam-me
Devo seguir até o enjõo?
posso, sem armas, revoltar-me?
...
não, o tempo não chegou de completa justiça.
o tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
Ah Drummond...
FODA!
Forte abraço,
Tommy Wine Beer.